quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Ainda sobre Eckhart


Os grifos são meus. Atenção para o uso do termo "intelecto" no final da citação, que fora nomeado por muitos como nôus.

"Se houve, no entanto, um processo, um julgamento e uma censura, é porque, ao menos em certa medida, para alguns de seus contemporâneos o pensamento de Eckhart continha elementos estranhos e mesmo contrários à ortodoxia católica. Longe de se afigurar como uma doutrina orgânica da Igreja, o modelo eckhartiano representava antes, para alguns círculos da ortodoxia, a condenável tentativa de supor a real possibilidade de superação de todas as diferenças entre divindade e humanidade. Exemplo máximo dessa teoria seria a doutrina sobre a existência de algo de incriado na alma, a qual entreabriria a possibilidade de reconhecer nesse “algo incriado” uma instância que fugiria à condição de “criatura” e de pôr em xeque, desse modo, o próprio sentido de Deus como criador de tudo o que existe. A reprovação do todo dessa doutrina é uma das marcas fundamentais da bula In agro dominico, que, em seu vigésimo-sétimo artigo, condena explicitamente que exista algo de incriado e incriável na alma humana e que esse algo seja o intelecto." (2009, p.69)

GUERIZOLI, Rodrigo. Mestre Eckhart: misticismo ou "aristotelismo ético"?, Cadernos de filosofia alemã nº 11, P. 57 - 82, jan-jun 2008.