Um trecho que esboça algumas diferenças perceptíveis entre um paganismo arcaico e original, hoje imerso em nós mesmos, interior, e um neopaganismo que resulta da própria apologética cristã em tempos antigos e medievos; uma morfose que regula um suposto "paganismo" junto ao espírito decadente da civilização atual assumindo, para si, todos os valores negativos de um panteísmo inconsequente (tradução do espanhol feita por mim):
O nascimento do Danúbio, por Konstantin Vasilyev
"Em primeiro
lugar, o que caracterizou ao mundo não-cristão em todas suas formas
superiores não foi uma divinização supersticiosa da natureza, mas
uma compreensão simbólica da mesma, através da qual todo fenômeno
e toda ação surgia como a manifestação sensível de um mundo
suprassensível: a concepção "pagã" do homem e do mundo
teve essencialmente um caráter simbólico sacral. Em segundo lugar,
o modo "pagão" de vida não foi de todo um naturalismo
licencioso: nas formas originárias e de alta tensão da antiga Roma,
da antiga Hélade, das antigas civilizações indo-germânicas do
Oriente, etc., não houve aspecto da vida, seja individual como
colectiva, que não estivesse acompanhado, sustentado e animado por
um rito correspondente, quer dizer por uma ação e por uma intenção
espiritual concebidas como objetivamente eficazes. Em terceiro lugar,
o mundo "pagão" conheceu já um são dualismo: o mesmo se
reencontra não apenas em grandes concepções especulativas -
limitemo-nos a nomear a um Platão e a um Çankara - senão também
em concepções religiosas gerais, como a antagônica própria dos
Indo-europeus e do antigo Irã, como a oposição helênica entre as
"duas naturezas", como a existente entre o mundo dos Asen e
mundo elemental dos antigos nórdicos, ou entre a "via solar"
e "dos Deuses" e a "via da terra", entre "vida"
e "liberação a respeito da vida" dos antigos Hindus, e
assim sucessivamente. Em conexão com ele, a aspiração a uma
liberdade sobrenatural, quer dizer a uma realização metafísica da
personalidade, foi comum a todas as grandes civilizações
pré-cristãs, as quais conheceram toda uma "iniciação" e
celebraram seus "mistérios". A inocência naturalista pagã
é uma fábula tal que a mesma não se reencontra nem sequer entre os
selvagens: aquela foma que, para alguns, seria seu limite, isto é o
ideal clássico, não se encontra aquém, mas além do dualismo entre
espírito e corpo, sendo o ideal de um espírito que se converteu
assim em dominador, de tal modo que plasme plenamente o corpo e a
alma à sua imagem, em perfeita correspondência de contentor com
conteúdo." - Julius Evola em Más Allá del Fascismo, Ediciones Heracles. 2006: Buenos Aires.