quarta-feira, 30 de maio de 2012

Paganismo antigo (Julius Evola)


Um trecho que esboça algumas diferenças perceptíveis entre um paganismo arcaico e original, hoje imerso em nós mesmos, interior, e um neopaganismo que resulta da própria apologética cristã em tempos antigos e medievos; uma morfose que regula um suposto "paganismo" junto ao espírito decadente da civilização atual assumindo, para si, todos os valores negativos de um panteísmo inconsequente (tradução do espanhol feita por mim):
O nascimento do Danúbio, por Konstantin Vasilyev

"Em primeiro lugar, o que caracterizou ao mundo não-cristão em todas suas formas superiores não foi uma divinização supersticiosa da natureza, mas uma compreensão simbólica da mesma, através da qual todo fenômeno e toda ação surgia como a manifestação sensível de um mundo suprassensível: a concepção "pagã" do homem e do mundo teve essencialmente um caráter simbólico sacral. Em segundo lugar, o modo "pagão" de vida não foi de todo um naturalismo licencioso: nas formas originárias e de alta tensão da antiga Roma, da antiga Hélade, das antigas civilizações indo-germânicas do Oriente, etc., não houve aspecto da vida, seja individual como colectiva, que não estivesse acompanhado, sustentado e animado por um rito correspondente, quer dizer por uma ação e por uma intenção espiritual concebidas como objetivamente eficazes. Em terceiro lugar, o mundo "pagão" conheceu já um são dualismo: o mesmo se reencontra não apenas em grandes concepções especulativas - limitemo-nos a nomear a um Platão e a um Çankara - senão também em concepções religiosas gerais, como a antagônica própria dos Indo-europeus e do antigo Irã, como a oposição helênica entre as "duas naturezas", como a existente entre o mundo dos Asen e mundo elemental dos antigos nórdicos, ou entre a "via solar" e "dos Deuses" e a "via da terra", entre "vida" e "liberação a respeito da vida" dos antigos Hindus, e assim sucessivamente. Em conexão com ele, a aspiração a uma liberdade sobrenatural, quer dizer a uma realização metafísica da personalidade, foi comum a todas as grandes civilizações pré-cristãs, as quais conheceram toda uma "iniciação" e celebraram seus "mistérios". A inocência naturalista pagã é uma fábula tal que a mesma não se reencontra nem sequer entre os selvagens: aquela foma que, para alguns, seria seu limite, isto é o ideal clássico, não se encontra aquém, mas além do dualismo entre espírito e corpo, sendo o ideal de um espírito que se converteu assim em dominador, de tal modo que plasme plenamente o corpo e a alma à sua imagem, em perfeita correspondência de contentor com conteúdo." - Julius Evola em Más Allá del Fascismo, Ediciones Heracles. 2006: Buenos Aires.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Quarto Estado




"A Civilização depara com esse conceito do povo e aniquila-lo pelo conceito do quarto Estado, da massa, avessa por princípio à Cultura e a suas formas naturalmente evoluídas. A massa é o absolutamente informe. Persegue com seu ódio qualquer espécie de forma, quaisquer diferenças hierárquicas, a propriedade organizada, o saber disciplinado. É o novo nomadismo das metrópoles, para o qual os escravos e os bárbaros na Antiguidade, tanto como os sudras na Índia, e tudo quanto for homem constituem, sem distinção, um quê flutuante, totalmente desprendido das suas origens, desdenhoso, no que se refere ao passado, e desprovido de futuro. Assim, o quarto Estado torna-se expressão da História que se transforma em algo obrigatório. A massa é o fim, é o nada radical."
- Oswald Spengler em A Decadência do Ocidente