sábado, 24 de abril de 2010

Sociedade em FÚRIA

"É bem verdade que eu podia ter resistido à força, com maior ou menor resultado, podia ter-me enfurecido contra a sociedade; mas preferi que a sociedade se enfurecesse contra mim, por ser ela a parte desesperada."
(Henry Thoreau IN Walden ou a vida nos bosques)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Vida nos Bosques...


Um livro fantástico este "Walden ou a vida nos bosques", escrito por Henry Thoreau. São muitas reflexões úteis que encontrei e, de vez em quando, postarei aqui.

"Em sã consciência podemos com o pensamento estar além de nós mesmos. Por meio de um lúcido esforço da mente podemos nos manter à distância das ações e suas conseqüências; e todas as coisas, boas e más, passam por nós como uma torrente. Não estamos integralmente envolvidos na natureza. Tanto posso ser um pedaço de madeira flutuando à deriva da corrente, quanto Indra no céu contemplando-o da altura. Posso ficar impressionado com um espetáculo de teatro e, por outro lado, não me comover com um acontecimento real que parece muito mais dizer-me respeito. Só me conheço como entidade humana, o palco, por assim dizer, de pensamentos e emoções; e sou consciente de certa duplicidade pela qual posso ficar tão distante de mim mesmo quanto de qualquer outra pessoa. Por mais intensa que seja a minha experiência, estou cônscio da presença e da crítica de uma parte de mim, que, como se não me pertencesse, fosse um espectador sem nenhuma participação na experiência, apenas anotando-a; e essa parte de mim não é mais eu do que é vós. Quando chega ao fim a comédia ou, quem sabe, a tragédia da vida, o espectador vai-se embora. Até onde lhe dizia respeito foi uma espécie de ficção, uma simples obra de imaginação. Essa duplicidade algumas vezes pode facilmente nos tornar amigos ou míseros vizinhos.
Considero saudável ficar só a maior parte do tempo. Estar em companhia, mesmo com a melhor delas, logo se torna enfadonho e dispersivo. Gosto de ficar sozinho. Nunca encontrei companhia que fosse tão companheira como a solidão. Na maioria das vezes somos mais solitários quando circulamos entre os homens do que quando permanecemos em nosso quarto. Um homem enquanto pensa e trabalha está sempre sozinho, onde quer que esteja. Não se mede a solidão pelas milhas de espaço que distam um homem de seus companheiros. O estudante realmente aplicado, em meio às superlotadas colméias da Universidade de Cambridge, é tão solitário como um dervixe em pleno deserto. O lavrador pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques o dia inteiro, cavoucando com a enxada ou cortando lenha, e não se sentir solitário, porque está ocupado; mas quando retorna ao lar à noite não pode se recolher no quarto só, à mercê de seus pensamentos, e tem que ir aonde pode "ver gente" e distrair-se, para, como julga, recompensar-se da solidão de seu dia; e assim ele se pergunta como pode o estudante ficar sozinho em casa a noite inteira, além de grande parte do dia, sem se entediar e sem crises de tristeza; mas ele nem de longe se dá conta de que o estudante, embora em casa, continua trabalhando em "seu" campo, cortando a lenha de "seus" bosques, tal e qual o lavrador, e que por sua vez procura a mesma distração e companhia que este, só que provavelmente de forma mais condensada." (THOREAU, Henry. 1854)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Recordar e Aplicar - Vida e Luta; Páginas e Escudo


Recordar e Aplicar
Vida e Luta; Páginas e Escudo

          Não entendo o mundo moderno e suas verdades, tampouco suas metas e seus meios. Muito mais me encanta o antigo, o intocado pela modernidade. Pois uma das máximas da atualidade é a do suposto avanço que presenciamos nestes séculos mais recentes, um avanço que seguiria para todos os lados possíveis, expandindo o campo de visão do homem a distâncias e paisagens jamais contempladas. Eis uma ilusão de proporções colossais, titânicas.
            Hoje se crê que é bom viver por longo tempo, ser um ancião, e quase todos serão. A grande felicidade é tornar-se velho, mesmo que não tenha mais motivos para viver, mesmo que não existam mais ideais, mesmo que não existam mais canções ou novidades para serem contempladas. Apenas deseja-se ser. Ser por ser e só. Admiram viver em um mundo pelo qual apenas se passa, permanece e se vai sem grandes feitos e sem realizar sua vontade ou, ao menos, possuir uma vontade. "Nossa depressão é nossas vidas” (Clube da Luta) e não há nada de importante para fazer por aqui. Tudo é facilitado, nascemos apenas para crescer, consumir, votar e morrer. "A vida passa e ninguém vê" e também não há grandes atrações para serem vistas. Largaram-se os mitos para cultuar a razão; esta grande armadilha, uma dama ingrata e limitada. Com essa vida débil e lerda, os heróis morrem, o heroísmo fica nos livros e os homens passam a rastejar por compaixão.
            Ao pensar numa possibilidade existencial diferente, só consigo conceber algo antigo e mitológico, anterior à vulgar era cristã. Perguntar-se-ão alguns se não seria um mundo amargo, um em que tudo vai e vem com breve facilidade. De fato, ele é. Mas é um mundo de potencial, de “vontade-de-potência”. Há muito mais verdade em um mundo deste do que há nisso que vivemos. Antes viver poucos anos intensamente a viver 80 anos como um robot. Antes morrer jovem na guerra a morrer velho por alguma doença que, ao contrário de tantas outras, não pôde ser evitada.
            A sociedade está contaminada por algo chamado "amor ao próximo" e padece de falsa-filantropia. Cuida-se demais do humano. Os mais incapacitados, os mais fracos, os mais baixos e vis homenzinhos têm a chance de viver nas mesmas condições que os capazes e promissores. Talvez alguém se levante agora e diga que não são iguais, pois o "capitalismo é selvagem", e não discordo; Mas é quase regra geral que, mesmo que pobre, se consigam as condições necessárias para sobreviver até avançada idade. O culto à igualdade se torna implacável, o culto à mediocridade se torna inevitável. Desvendar qual tipo de vida vale mais é a tarefa mister para responder um importante questionamento dentro do assunto.
            Algum canto entoado em um lugar muito distante chega até nós nessa era, lembrando-nos de mundos INexistentes, mas que são tão reais quanto o chão que pisoteamos. É o caminho conducente em meio tanta loucura e insignificância. Sem ele, não poderíamos encarar os vultos do momento e dizer "Humano, demasiado humano". Se tudo é assim, tão estúpido, se o universo apenas é usado como degrau para avançar na escala da evolução e nos caminhos kármicos, não há motivo para prezar por nada. Preferimos fazer como os antigos, nossos antepassados, que tinham a guerra como meio de vida e que tinham a vontade como guia. Sem piedade, sem compaixão, apenas com um sentimento misantrópico e uma vontade direcionada: que a Lei do Forte seja manifesta. E até os incapazes sentir-se-ão alegres, mesmo que se contentem com tão pouco, porque que terão chance na próxima encarnação. Assim nos apartaríamos das doenças do homem moderno.
            A vida é luta, e sempre será. O mundo não é mais que um campo de batalha. Apenas existimos para sobreviver entre as ruínas. Antes viver onde nos deparamos com os fatos puros e essenciais da real natureza que nos cerca e com a real natureza que nos constitui a viver onde nos deparamos com problemas criados por e para nós mesmos, problemas e abstrações idealizadas por outros como se fossem normas e padrões absolutos comuns à todos.
            Enquanto debate-se em uma pequena cela existencial, o homem moderno zomba do antigo, chamando-o de primitivo e tolo por acreditar em seus próprios mitos. Ao mesmo tempo, alguns visionários - Carl Gustav Jung, por exemplo - que escutam a canção antes citada, provam que o homem antigo estava muito mais próximo da totalidade psíquica e muito mais consciente de suas necessidades e vontades interiores que o homem moderno. Lembre-se que "O crepúsculo dos Deuses é apenas dos Deuses, mas a Ressurreição dos Deuses é a ressurreição dos Heróis!". Dos símbolos eternos e dos mitos indestrutíveis, obtemos inspiração para fazê-los realidade.
Semper fi!
Auf Wiedersehen!

obs: Para acompanhar o texto e todo seu conteúdo:
Banda: Ensiferum
Música: Ferrum Aeternum

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Jacó e o Banco Invisível


            Podemos chamar de demagogo, nojento, mesquinho e sovina a esse tipo de gente, mas esta gente também é esperta, é rasteira e baixa. E a este povo que Jacó pertence, mas, com toda sua esperteza, ele esconde sua verdadeira face, da mesma forma que o ator profissional reveste-se com algum personagem, ocultando sua personalidade real. Porém, Jacó, este vil sujeito, não o faz por arte, nem para divertir multidões. Jacó o faz para enganar e enriquecer. Orientado, pela família, nas técnicas da usura e do proveito, cresceu usando os demais como escada para alcançar suas obsessões materiais. Já se encontra velho, um tanto calvo e rechonchudo, seu nariz é grande e possui a forma de gancho, seu cabelo é crespo. É o tipo de pessoa que não inspiraria confiança em ninguém, mas, isto, ele compensa com sua lábia e sua habilidade que mais parece a de um comerciante do Oriente Médio, tamanha sua persuasão. Este seu lado, o verdadeiro, sua real natureza, poucos são os que conhecem, e os que conhecem são de mesmo nível desprezível.
            Em suas campanhas, apresenta-se como “homem-de-bem”, defensor dos bons-valores e da família. Seus discursos sempre são inflamados, com palavras simples e diretas. Jacó é um verdadeiro populista. Quando vai às ruas, multidões o acompanham. . Jacó sempre faz o tradicional “V” de “Vitória”, assim como fazia Churchill, na Inglaterra. Ainda vai além, pois é costume desse nosso político o gesto de beijar bebês, segurar crianças no colo e saudar, calorosamente, a multidão. A mesma multidão acredita em todas as promessas absurdas de Jacó. O povo diz que “agora, nós vamos pra frente!”, diz “Deus ajude o seu Jacó!”. Se Jacó ouvisse tais declarações, iria rir enquanto pensava “Meu Deus é o dinheiro!”. Um é o político, mas outro é a pessoa, a única coisa que liga os dois monstros é o dinheiro. Não se sabe qual sua posição política; ora faz aliança com vermelhos comunistas e outra ora se alia aos ricos capitalistas. Com sua esperteza, já sabe que o povo não dá atenção aos detalhes.
            Ao encostar-se em seu fino travesseiro, em sua grande mansão, Jacó não pensa em quantos já enganou ou em quantos já despejou seu ácido venenoso, Jacó apenas pensa em quantos tolos ainda poderão ser enganados e quantos desprevenidos existem para que possa despejar, maldosamente, todo seu veneno corrosivo. Ele tampouco se arrependeu de suas várias personalidades, só imagina como fará o povo cumprir seus desejos, como enriquecer mais e mais. E, ao cair em profundo sono, sonha com um templo quadrado de ouro, suspenso no céu de cifras monetárias, onde aprende e ensina a seus outros “eus”, a Cabala do Dinheiro

Abril de 2010, em Khaostopia.

sábado, 10 de abril de 2010

Arte e Temporalidade

Lendo o livro “O Homem e seus símbolos”, me deparei com um capítulo escrito pela Dra. Aniela Jaffé, sobre o simbolismo nas artes plásticas e, lá, ela cita o pintor francês Jean Bazaine em suas Notas sobre a Pintura Contemporânea:
 "Ninguém pinta como quer. Tudo que um pintor pode fazer é querer, com todas as suas forças, a pintura de que a sua época é capaz."
Ela também cita o artista alemão Franz Marc, morto na 1ª Grande Guerra:
"Os grandes artistas não buscam suas formas nas brumas do passado, mas sondam tão profundamente quanto podem o centro de gravidade recôndito e autêntico da sua época."
Ainda cita Kandinsky em seu famoso ensaio A Propósito do Espiritual em Arte:
 "Cada época recebe sua própria dose de liberdade artística, e nem mesmo o mais criador dos gênios consegue transpor as fronteiras desta liberdade."

Eu discordo totalmente dessas afirmações. Nossa era é um lixo, um depósito de tudo que é baixo, vulgar e absurdo. As artes puras e belas estão esquecidas, a música sublime é vulgarizada, toda transcendência pende para o lado errado. Que faríamos se nos prendêssemos aos conceitos e labirintos culturais desta época? Digo-lhes: Encheríamos as fileiras das massas igualitárias, das mentes baixas e pardacentas, seríamos mais um pingo nessa lama fétida e horrível. Devemos resistir.
Não digo para resistirmos “pintando o que queremos”, como colocaria Jean Bazaine, mas para não retratarmos ou nos atermos ao presente. Devemos pintar uma época passada e gloriosa que deve servir como uma imagem-meta para o futuro. Uma era de ouro que reside na memória nostálgica e que também servir-nos-á de inspiração para uma exteriorização do conceito ao mundo; o passado nostálgico, imperial, ário, pagão, dourado, heróico servindo de inspiração para a criação de um IMPERIVM.
O mundo atual, (Pintura de Harald Damsleth)
O que reside no sangue e nos orienta

Ao falarmos de Imperivm, permeamos um conceito muito interessante, que é o de correspondência entre microcosmos e macrocosmos, pois o que está no interior é correspondente, análogo, ao que está no exterior. A criação de um Imperivm exterior só é tarefa válida se for executada por aqueles que já dominaram seu microcosmo da mesma forma como se domina um império. Com o microcosmo controlado, com seus impulsos regulados, com seu “Eu” isolado, se faz real a possibilidade de ação no plano exterior. Um imperivm exterior é o reflexo do interior e podemos tomar de inspiração o imperivm exterior para consolidarmos aquele que está dentro de nós. Essa é uma possibilidade que repousa no SANGUE, repousa no atemporal, logo não tem relação direta com o tempo presente.
Microcosmo e Macrocosmo, conceitos análogos

Aqui, abre-se uma brecha para evidenciar um conceito importante sobre tal a frase de Jean Bazaine. Por mais que os valores que exaltamos estejam sumidos no mundo exterior, a nossa busca muito bem poderia ser analisada exteriormente como um processo inerente à época, validando a afirmação do pintor francês. Por que isso tornaria a afirmação que contrariei como válida? Colocarei duas possibilidades:
Primeira – As idéias de Imperivm SEMPRE estão presentes, pois é um reflexo da queda e de nossa origem. Esta idéia acerca-se da metafísica, tornando nossas reflexões atemporais, imanentes ao humano – nem todos – e eternas. Logo estaria viva em toda e qualquer época.
Segunda – O último grande Imperivm caiu há quase um século. Depois de tantos anos sofrendo calúnias, acusações mentirosas, distorções movidas pelos beneficiados em tal ato desprovido de honra, os seus admiradores começam a se reerguer de forma majestosa em todos os rincões do mundo. Um sentimento de vingança e de honra aconchega os jovens que encontram, nos fatos passados, um sentido-maior de nostalgia espiritual. Logo, historicamente, a idéia está viva na própria época, mesmo que seja sufocada.

 “Os grandes artistas não buscam suas formas nas brumas do passado, mas sondam tão profundamente quanto podem o centro de gravidade recôndito e autêntico da sua época."

O que defendo aqui é que, mesmo nessa época indesejável, nossos ideais devem ser mantidos. E devemos expressá-los, seja nas artes, seja na política e na guerra. Devemos expressá-los como faríamos 3000 anos antes da Vulgar Era Cristã ou como fizemos um século atrás. Nossos Deuses sempre foram os mesmos, nossas orientações sempre foram as mesmas, nossas fontes arquetípicas são as mesmas. A única coisa que pode mudar é a linguagem habitual pela qual nós afirmamos nossos signos. Estamos em uma época perdida, mas não é por isso que devemos retratá-la, principalmente se temos a possibilidade de afirmar, nas obras, a nostalgia da voz-de-sangue.

Semper-Fi!
Auf Wiedersehen!