quarta-feira, 20 de julho de 2011

Humanidade, cultura


Mas a "Humanidade" não tem nenhum objetivo, nenhuma idéia, nenhum plano, como não os têm as espécies das borboletas os das orquídeas. "A Humanidade" é um conceito zoológico ou uma palavra vazia. Façamos com que esse fantasma desapareça do círculo de problemas relacionados às formas históricas, e logo veremos surgir uma abundância surpreendente de formas genuínas. Em lugar da monótona imagem de uma História Universal retilínea, deparo com o espetáculo de múltiplas culturas poderosas, a brotarem com cósmico vigor do seio de uma região maternal, à qual todas elas permanecem ligadas, rigorosamente, por todo o curso de sua existência. Cada qual dessas culturas imprime à sua matéria, que é o espírito humano, a sua forma peculiar, cada qual tem suas próprias idéias, suas próprias paixões, sua vida, sua vontade, seu sentir, sua morte próprios. Existem aí cores, luzes, movimentos, jamais descobertos por nenhuma contemplação espiritual. Há culturas, povos, línguas, verdades, deuses, regiões, alguns florescentes, e outros envelhecidos, como há carvalhos ou pinheiros, corolas, galhos e folhas que sejam novos e outros que sejam velhos. Porém não há nenhuma "humanidade" avelhantada. Cada cultura tem suas próprias possibilidades de expressão, que se manifestam, amadurecem, definham e nunca mais ressuscitam. Existem numerosas plásticas fundamentalmente diferentes entre si, existem numerosas Pinturas, Matemáticas, Físicas. Cada qual tem duração limitada, cada qual está encerrado em si mesma, assim como toda espécie vegetal tem suas flores e frutas características, seu tipo peculiar de crescimento e de decadência. Essas culturas, seres vivos de ordem superior, criando-se, como os lírios do campo, numa sublime ausência de propósitos. Da mesma forma que plantas ou animais fazem parte da natureza viva de Goethe, e não da natureza morta de Newton.
- SPENGLER, Oswald. A Decadência do Ocidente - Esboço de uma morfologia da História Universal

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