quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Considerações sobre a política

          
            Com o inevitável movimento do iluminismo e advento da revolução francesa inicia um processo já sem volta na civilização ocidental; são lançadas as bases do liberalismo, socialismo, da democracia e dos dogmas que viriam a guiar implacavelmente a condução dos povos. O já tão batido lema Liberté, Egalité, Fraternité lança as sementes que faria crescer a erva daninha que estrangularia o espírito europeu. Os valores democráticos, humanitários, altruístas passam a se desenvolver na literatura e na arte, os antigos regimes começam a ser questionados. Após a segunda guerra mundial, fora um ou outro cintilar isolado e enfraquecido de política dissidente desse novo sistema universal, as bases da política ocidental, a materialização da democracia pensada, estavam completas. A única divergência - e quão ilusória é - permaneceu no conflito entre capitalismo e comunismo, direita e esquerda. Começava a "Guerra Fria".
            Na guerra fria houve o combate ideológico entre duas visões de mundo supostamente antagônicas que descendem diretamente do movimento explanado anteriormente; a igualdade, a fraternidade, o humanismo. Até os dias de hoje, que parecem tão distantes da guerra fria, parece que ainda vivemos sob esse eterno combate entre duas forças "opostas". cada uma possui uma série de conceitos que se encaixam, em maior ou menor grau, nas bases da grande reforma política que moldou o atual ethos ocidental. Gustavo Corção atribui a cada lado da disputa algumas características - há de se considerar a inclinação conservadora do mesmo - permanentes. À esquerda: igualdade, liberdade, anarquia, república, democracia, anarquia, revolução, internacionalismo, justiça, justiça social, virtudes revolucionárias, ação social, reformismo e comunismo Nesse quadro e mesma ordem, atribui à direita as seguintes características opositoras: aristocracia, autoridade, hierarquia, monarquia, autocracia, ditadura, tradição, nacionalismo, ordem, segurança nacional, virtudes militares, ação política, conservantismo, reação anticomunista. Essa catalogação dentro do binômio serve para afirmar um antagonismo entre os dois lados e observar como eles mantiveram o embate na guerra fria.
            Ao longo desse texto a esquerda e a direita foram tratados como dois lados da mesma moeda e seu antagonismo como meramente superficial. O porque de tal afirmação ousada se caracteriza pelos rumos políticos que ambos os lados vieram a tomar com o transcorrer do tempo. Primeiro movimento; nascem as duas forças. Segundo movimento; movimentos libertários contra o conservadorismo. Terceiro movimento; forças de 'esquerda' com poder para enfrentar de frente seu opositor, combate ideológico (guerra fria). Quarto movimento; a guerra fria acaba e os regimes de características mais acentuadas dão lugar a democracias tolerantes que, como hoje, caminham para a grande síntese entre socialismo e capitalismo, ou formas hibridas. A esquerda e direita puras estão mortas. A exemplo disso, há o Brasil, governado por um partido de esquerda, do proletariado, mas que mantém uma linha econômica capitalista. Não há símbolos que signifiquem tais nações imersas em miscelâneas ideológicas. A grande verdade é que caminhamos para a política da "cultura de esquerda com economia de direita". E já era em outros tempos que essas duas "vias" davam sinais de cooperação. Foi só uma terceira via surgir na Europa - o perigo fascista - que o duro comunismo soviético se aliou ao liberalismo americano para combater um inimigo em comum. inimigo que fugia desse dualismo. Cansativas são as analogias com o princípio taoista de yin-yang, de dois princípios opostos que se conformam em unidade absoluta. Mas que seja: uma cabeça de Janus.
            Ponderando tais valores, fica mais claro o tipo de ambiente político que vivenciamos e que as divergência políticas não são mais extremas, tudo há de convergir em uma unidade ideológica apenas. O estado sinárquico – esse enorme leviatã - parece ser afastado - agora ele é sutil, mas muito pior em sua própria natureza, pois é parte de sua evolução e meta se tornar parte imperceptível da vida política e social. Se faz necessária a formulação de uma nova teoria política, mas em prática isso é impossível pois as bases do atual sistema já estão fortes demais. Sempre haverá a apolitéia como fuga última do regime de confusão política em que estamos imersos; apolitéia, o afastamento consciente de todos os meios políticos mas sem privar a ação do ser no mesmo meio. Não há importância na política ou na vitória das formas atuais de pensamento, tudo deve ser usado de forma estratégica para que, um dia, nasça uma nova teoria política, um arqueofuturismo sem igual.

-Flavslav

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