terça-feira, 20 de abril de 2010

Vida nos Bosques...


Um livro fantástico este "Walden ou a vida nos bosques", escrito por Henry Thoreau. São muitas reflexões úteis que encontrei e, de vez em quando, postarei aqui.

"Em sã consciência podemos com o pensamento estar além de nós mesmos. Por meio de um lúcido esforço da mente podemos nos manter à distância das ações e suas conseqüências; e todas as coisas, boas e más, passam por nós como uma torrente. Não estamos integralmente envolvidos na natureza. Tanto posso ser um pedaço de madeira flutuando à deriva da corrente, quanto Indra no céu contemplando-o da altura. Posso ficar impressionado com um espetáculo de teatro e, por outro lado, não me comover com um acontecimento real que parece muito mais dizer-me respeito. Só me conheço como entidade humana, o palco, por assim dizer, de pensamentos e emoções; e sou consciente de certa duplicidade pela qual posso ficar tão distante de mim mesmo quanto de qualquer outra pessoa. Por mais intensa que seja a minha experiência, estou cônscio da presença e da crítica de uma parte de mim, que, como se não me pertencesse, fosse um espectador sem nenhuma participação na experiência, apenas anotando-a; e essa parte de mim não é mais eu do que é vós. Quando chega ao fim a comédia ou, quem sabe, a tragédia da vida, o espectador vai-se embora. Até onde lhe dizia respeito foi uma espécie de ficção, uma simples obra de imaginação. Essa duplicidade algumas vezes pode facilmente nos tornar amigos ou míseros vizinhos.
Considero saudável ficar só a maior parte do tempo. Estar em companhia, mesmo com a melhor delas, logo se torna enfadonho e dispersivo. Gosto de ficar sozinho. Nunca encontrei companhia que fosse tão companheira como a solidão. Na maioria das vezes somos mais solitários quando circulamos entre os homens do que quando permanecemos em nosso quarto. Um homem enquanto pensa e trabalha está sempre sozinho, onde quer que esteja. Não se mede a solidão pelas milhas de espaço que distam um homem de seus companheiros. O estudante realmente aplicado, em meio às superlotadas colméias da Universidade de Cambridge, é tão solitário como um dervixe em pleno deserto. O lavrador pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques o dia inteiro, cavoucando com a enxada ou cortando lenha, e não se sentir solitário, porque está ocupado; mas quando retorna ao lar à noite não pode se recolher no quarto só, à mercê de seus pensamentos, e tem que ir aonde pode "ver gente" e distrair-se, para, como julga, recompensar-se da solidão de seu dia; e assim ele se pergunta como pode o estudante ficar sozinho em casa a noite inteira, além de grande parte do dia, sem se entediar e sem crises de tristeza; mas ele nem de longe se dá conta de que o estudante, embora em casa, continua trabalhando em "seu" campo, cortando a lenha de "seus" bosques, tal e qual o lavrador, e que por sua vez procura a mesma distração e companhia que este, só que provavelmente de forma mais condensada." (THOREAU, Henry. 1854)

1 comentários:

magrelo disse...

Sem dúvida um dos melhores que já li !!!

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